Doença enxerto contra hospedeiro

Cerca de 50% dos doentes que fizeram transplante alogénico têm doença enxerto contra hospedeiro.

 

Esta complicação característica do transplante alogénico resulta do seguinte:

 

Juntamente com o enxerto de medula entram em circulação no doente células do dador (linfócitos) que atacam quaisquer células do doente que tenham à superfície antigénios que são reconhecidos pelas células do dador como estranhos. As células atingidas libertam produtos químicos que vão estimular outras células do dador e deste conjunto de reacções resultam diversas manifestações clínicas que constituem a doença enxerto contra hospedeiro. Há dois tipos: aguda e crónica.

 

A doença aguda atinge principalmente a pele, o fígado e o tubo digestivo. Em geral, as primeiras manifestações surgem na 3ª semana depois do transplante, começando por rubor e sensação de calor nas palmas das mãos e plantas dos pés. Depois, pode estender-se a todo o corpo. Podem surgir bolhas e feridas e descamação da pele.

 

Quando o fígado está atingido, surge icterícia. Quando a doença atinge o tubo digestivo, surgem náuseas, vómitos e diarreia e perda de apetite.
Na maioria dos casos, a doença limita-se à pele, e nesse caso a evolução é favorável. Nas formas mais graves, o tratamento é menos eficaz e a probabilidade de insucesso e de complicações adicionais é maior.

 

A doença crónica surge depois dos três meses, atingindo cerca de um terço dos doentes que fizeram transplante alogénico. É menos frequente nos doentes com menos de 20 anos.

 

As lesões aparecem na pele, sob a forma de manchas, descamação, e muitas vezes surgem "peladas" na cabeça. A pele pode ficar espessa, perder elasticidade e, quando estão atingidas áreas próximas de articulações, provocar dificuldade de movimento destas. Por vezes, surge secura das mucosas (boca, olhos, vagina). O fígado também pode ser atingido.

 

Na maioria dos casos, a doença enxerto contra hospedeiro é tratável, embora possam persistir sequelas por longo período ou até mesmo indefinidamente. As formas mais graves são aquelas em que a doença aguda persiste, apesar do tratamento, e evolui, sem interrupção, para doença crónica.

 

As formas ligeiras de doença enxerto contra hospedeiro não obrigam a prolongar o internamento. No entanto, as formas mais graves podem necessitar de períodos prolongados de permanência no hospital.

 

Curiosamente, os doentes que têm doença enxerto contra hospedeiro têm menor probabilidade de sofrerem uma recaída da leucemia. Isto quer dizer que a doença enxerto contra hospedeiro "ajuda" a curar a leucemia.
No entanto, os problemas que podem resultar desta complicação e a dificuldade, por vezes, em controlar as suas manifestações, tornam-na indesejável (excepto, possivelmente, em casos de leucemia muito avançada) e todos os esforços devem ser feitos para a prevenir.

 

Como é óbvio, nos doentes que fazem autotransplante, não há doença enxerto contra hospedeiro. Este facto, contribui, significativamente, para o menor risco de complicações no autotransplante comparativamente com o alotransplante. Mas é possível, com determinados medicamentos, provocar alterações semelhantes à forma ligeira da doença enxerto contra hospedeiro dos alotransplantes, o que pode ser benéfico para aumentar o efeito curativo do autotransplante.

 

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