Reinternamentos

  • Sabia que...

    A maioria dos doentes submetidos a transplantação não sofre complicações graves. No entanto, infelizmente, uma pequena percentagem de doentes tem complicações que são fatais. Será em função da doença e do doente que se toma a decisão mais apropriada.

     

    Contudo, o transplante não termina do acto de infusão das células. Com efeito, podem surgir algumas complicações que obrigam a um período de reinternamento para uma tratamento adequado das mesmas. O risco de complicações resultantes do transplante é maior nos doentes que fazem alotransplante do que nos que fazem autotransplante. Mas, em contrapartida, na maioria das doenças, a probabilidade de se obter a cura é maior quando os doentes fazem alotransplante.

     

    Apesar dos progressos obtidos nos últimos anos, a quimioterapia mantém uma toxicidade elevada que pode provocar complicações mais ou menos graves, por vezes fatais. É muito possível que a maioria ou mesmo nenhum destes problemas ocorra, mas se surgirem não são inesperados.

     

  • Pneumonite intersticial

    A pneumonite intersticial é uma inflamação dos tecidos que envolvem as vias aéreas dos pulmões. Pode ser causada por infecções, mas resulta muitas vezes da toxicidade do condicionamento, sobretudo nos doentes que fazem ou fizeram no passado radioterapia. Como se disse atrás, o exercício ajuda a evitar que as pneumonites sejam complicadas por infecções, embora seja muitas vezes difícil de tolerar nas duas primeiras semanas depois do transplante.

     

  • Doença veno-oclusiva hepática

    A doença veno-oclusiva hepática surge em cerca de 20% dos doentes e resulta, também, do regime preparatório de condicionamento. As paredes dos vasos hepáticos dilatam-se, acumula-se fibrina no interior desses pequenos vasos, impedindo a circulação normal no fígado, podendo mesmo bloquear as pequenas veias hepáticas. Disto resulta aumento de peso por retenção de água no corpo, edemas e ascite (líquido na cavidade abdominal). Os doentes ficam com icterícia porque a drenagem da bílis está também dificultada. Nas formas mais graves, pode resultar uma alteração acentuada da função hepática. O tratamento visa aliviar os sintomas, reduzir o inchaço e a ascite, enquanto o fígado se vai regenerando a si próprio.

     

  • Cistite hemorrágica

    Certos medicamentos utilizados no condicionamento podem provocar uma descamação da mucosa da bexiga que provoca dores, dificuldade em urinar e hemorragia. Estes doentes podem necessitar de muitas transfusões para corrigir as perdas e de lavagens frequentes da bexiga. Na grande maioria dos casos, a cistite hemorrágica resolve-se sem deixar quaisquer problemas, mas podem persistir sintomas durante algum tempo. Para evitar esta complicação os doentes, durante o condicionamento, recebem grande quantidade de soros são aconselhados a urinar frequentemente e tomam um medicamento para proteger o aparelho urinário. Com estas medidas preventivas, a cistite hemorrágica só surge raramente.

     

  • Infecções

    A quimioterapia de condicionamento elimina a medula óssea e o sistema imunitário e destroi as barreiras naturais contra a infecção (por ex., pele e mucosas da boca, intestino, etc.). Por isso, a maioria dos doentes tem infecções. O primeiro sinal é a febre. A maioria das infecções são provocadas por micróbios que fazem parte da flora normal do doente e que só provocam doença devido à diminuição das defesas do doente, sobretudo devido à falta de glóbulos brancos. É por essa razão que os doentes permanecem isolados após o clclo de quimioterapia.


    A partir do momento em que a medula produz um número de glóbulos brancos suficiente, deixa de ser necessário manter o doente isolado. O doente poderá, inclusivamente, ter alta, mas o risco de infecções persiste, sendo a mais temível a infecção pelo citomegalovirus (CMV), que é um vírus que se encontra na grande maioria das pessoas em estado latente sem provocar doença, mas que em pessoas com defesas muito diminuídas, como os doentes transplantados, pode provocar infecções muito graves. Actualmente, é possível, em muitos casos, prevenir e tratar precocemente as infecções por citomegalovirus. Para isso, é necessário uma vigilância muito frequente dos doentes, mesmo depois de terem alta. As infecções por CMV são mais frequentes nos doentes que fizeram transplante alogénico e que têm doença enxerto contra hospedeiro.

     

  • Falência do enxerto

    É raro o enxerto não conseguir reconstituir a medula óssea no doente.

    Em menos de 5% dos casos de transplante alogénico o doente rejeita o enxerto. Quando isso acontece, o doente deve ser transplantado novamente, depois de se fazer novo tratamento para suprimir de forma mais eficiente o sistema imunitário do doente. Pode-se utilizar novo enxerto do mesmo dador, sem que isto envolva qualquer risco especial para este.

     

    Por vezes, depois de autotransplante observa-se atraso da recuperação do número de células do sangue ou mesmo falência do enxerto. Isto pode dar-se em consequência de uma insuficiência de células progenitoras da medula. Para evitar que isto aconteça, depois de se colher o enxerto, fazem-se análises para avaliar a qualidade e a quantidade de células progenitoras. Mas mesmo com enxertos com o número de células considerado suficiente, o enxerto pode não funcionar bem depois de transplantado. Nesses casos, os doentes podem necessitar de transfusões durante vários meses.

     

  • Doença enxerto contra hospedeiro

    Cerca de 50% dos doentes que fizeram transplante alogénico têm doença enxerto contra hospedeiro.

     

    Esta complicação característica do transplante alogénico resulta do seguinte:

     

    Juntamente com o enxerto de medula entram em circulação no doente células do dador (linfócitos) que atacam quaisquer células do doente que tenham à superfície antigénios que são reconhecidos pelas células do dador como estranhos. As células atingidas libertam produtos químicos que vão estimular outras células do dador e deste conjunto de reacções resultam diversas manifestações clínicas que constituem a doença enxerto contra hospedeiro. Há dois tipos: aguda e crónica.

     

    A doença aguda atinge principalmente a pele, o fígado e o tubo digestivo. Em geral, as primeiras manifestações surgem na 3ª semana depois do transplante, começando por rubor e sensação de calor nas palmas das mãos e plantas dos pés. Depois, pode estender-se a todo o corpo. Podem surgir bolhas e feridas e descamação da pele.

     

    Quando o fígado está atingido, surge icterícia. Quando a doença atinge o tubo digestivo, surgem náuseas, vómitos e diarreia e perda de apetite.
    Na maioria dos casos, a doença limita-se à pele, e nesse caso a evolução é favorável. Nas formas mais graves, o tratamento é menos eficaz e a probabilidade de insucesso e de complicações adicionais é maior.

     

    A doença crónica surge depois dos três meses, atingindo cerca de um terço dos doentes que fizeram transplante alogénico. É menos frequente nos doentes com menos de 20 anos.

     

    As lesões aparecem na pele, sob a forma de manchas, descamação, e muitas vezes surgem "peladas" na cabeça. A pele pode ficar espessa, perder elasticidade e, quando estão atingidas áreas próximas de articulações, provocar dificuldade de movimento destas. Por vezes, surge secura das mucosas (boca, olhos, vagina). O fígado também pode ser atingido.

     

    Na maioria dos casos, a doença enxerto contra hospedeiro é tratável, embora possam persistir sequelas por longo período ou até mesmo indefinidamente. As formas mais graves são aquelas em que a doença aguda persiste, apesar do tratamento, e evolui, sem interrupção, para doença crónica.

     

    As formas ligeiras de doença enxerto contra hospedeiro não obrigam a prolongar o internamento. No entanto, as formas mais graves podem necessitar de períodos prolongados de permanência no hospital.

     

    Curiosamente, os doentes que têm doença enxerto contra hospedeiro têm menor probabilidade de sofrerem uma recaída da leucemia. Isto quer dizer que a doença enxerto contra hospedeiro "ajuda" a curar a leucemia.
    No entanto, os problemas que podem resultar desta complicação e a dificuldade, por vezes, em controlar as suas manifestações, tornam-na indesejável (excepto, possivelmente, em casos de leucemia muito avançada) e todos os esforços devem ser feitos para a prevenir.

     

    Como é óbvio, nos doentes que fazem autotransplante, não há doença enxerto contra hospedeiro. Este facto, contribui, significativamente, para o menor risco de complicações no autotransplante comparativamente com o alotransplante. Mas é possível, com determinados medicamentos, provocar alterações semelhantes à forma ligeira da doença enxerto contra hospedeiro dos alotransplantes, o que pode ser benéfico para aumentar o efeito curativo do autotransplante.